A Banda Lira Traipuense
Histórico
No ano de 1886, foi fundada
a Sociedade Clube Doméstico Musical Guarany, que teve como seu primeiro
presidente o advogado Manoel Firmino Meneses Matos. A partir dessa iniciativa, uma outra
sociedade musical, antiga na cidade, passou a se denominar União Traipuense
Musical. Mais tarde foi fundada a Lira e Filarmônica , que por sinal é a única
que resistiu ao tempo.
Um dos primeiros músicos
traipuenses que se destacaram por seus trabalhos, foi José Leopoldino de Barros. Nascido nessa
cidade a 4 de janeiro de 1881 e falecido a 14 de junho de 1912. O mesmo
aprendeu música com o telegrafista e também musicista Lino Ferreira Lima, e em
sua estadia na capital baiana, que duraria até o ano de 1897, aprofundou seus
conhecimentos musicais. Tornou-se exímio executante do violino e do bombardino,
embora tocasse e ensinasse vários outros instrumentos. Ficou bastante conhecido
em todo o baixo São Francisco por seus trabalhos à frente de uma das Bandas de
Música do município.
Embora o movimento musical
na comunidade traipuense, já se fizesse intenso, foi a ação da Igreja e de seus
representantes, principalmente pela bela formação musical que possuíam, que a
música passou a ser tida como parte da vida do traipuense. O padre Alfredo
Silva que passou pela Paróquia de Nossa Senhora do Ó, de marco de 1911 a maio de 1949, foi um
grande entusiasta da música e fez, nos limites de suas possibilidades, todo o
possível para que a música que ali fluía, pudesse ser utilizada em louvor a
Deus. Compôs uma novena para cada dia do novenário mariano, num total de 30;
instituiu uma Novena a Nossa Senhora do Ó, em estilo clássico, bem mozartiana e
transformou aquela pacata cidade ribeirinha num promissor centro musical. Desde
então, a tendência natural do traipuense à música ganhou um impulso
considerável, de modo que toda família traipuense se orgulhava por ter um
membro músico.
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Foto da Banda Lira - anos 1960 Arquivo pessoal Nilton Souza. |
Ensinou música a algumas
pessoas da comunidade, dentre eles, Dona Angelita, Onofre Bispo e Ranufo Carmo.
Conhecido pelo apelido de Nô Morcego, o mestre Ranufo Carmo, nascido a 16 de
outubro de 1900 e falecido por volta de 1953, se destacou em Traipu como
professor, compositor, excelente clarinetista e regente, além do conhecimento
de vários outros instrumentos como o violino, flauta, violão e tantos outros.
Teve sua formação musical nesta comunidade, estudando com o Padre Alfredo
Silva. Participou de várias Bandas Militares na Bahia, Sergipe e Alagoas, sendo
expulso de todas elas por problemas relacionados ao alcoolismo. Esse mestre foi
um marco no desenvolvimento das gerações de músicos que estariam legados a
continuar a arte musical em Traipu.
Maestro Ranufo Carmo Foto do arquivo pessoal de Pedro Basílio. |
Até então, o ensino musical
era concedido apenas àqueles que podiam pagar. Somente em 14 de julho de 1946,
com a criação da Escola de Música José Leopoldino de Barros, na Administração
do Sr. Benedito de Freitas, o ensino de música passou a ser oferecido
gratuitamente, quando Ranufo Carmo passou a ser o primeiro professor dessa
escola e o primeiro professor de música contratado pela Prefeitura Municipal de
Traipu.
Além de professor, o mestre Nô assumiu a
regência da Banda de música e dava aulas particulares de violão e violino. Um
de seus alunos foi a Dona Nazaré Bento, que segundo suas memórias tinha que
aproveitar os intervalos entre as bebedeiras do talentoso professor para que
pudesse progredir nos estudos do violino.
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Banda Lira nos anos 1970, com Antônio Basílio como regente. Foto do acervo familiar de Antônio Basílio |
A frente da Lira, o maestro Nelson Palmeira, professor de música e excelente saxofonista, foi responsável pelas primeiras noções musicais do regente, nascido em Traipu, Florentino Dias. Passou grande parte de sua vida dedicando-se a Banda de Música de Traipu e nem mesmo depois de sua valorosa passagem por Arapiraca, deixou de opinar pela Lira Traipuense.
Após a saída do maestro
Nelson Soares Palmeira, Antônio Basílio ainda jovem assume a regência da Banda. Dentre
os regentes da Lira Traipuense é o que mais tempo passou a sua frente. Teve
como professor o tio-padrinho Ranufo Carmo, assim como seus irmãos José
Basílio, Manoel Basílio e Pedro Basílio também o tiveram.
Durante o período em que Antônio
Basílio ficou à frente da Lira, Nelson Souza, compositor, maestro, professor de
música e excelente executante do bombardino foi seu contramestre. Ainda jovem
teve o seu primeiro contato com a composição: era o dobrado 18 de dezembro, em
homenagem a padroeira da Cidade de Traipu, Nossa Senhora do Ó. Daí por diante
não faltaram inspirações para o seu talento musical. São mais de 50 composições
entre dobrados, marchas, valsas e frevos. Em 1970, Nelson Souza passou a ser o
professor da Escola de Música José Leopoldino de Barros, assumindo o lugar de Antônio
Basílio dos Santos que passou a assumir a regência da Banda Municipal. Com o
falecimento de Antônio Basílio, assume a regência da Lira Traipuense o maestro
Nelson Souza.
A Banda Lira Traipuense
desde o início do Bloco Pinto da Madrugada fez-se presente enviando uma
Orquestra de Frevo formada por saxofones, trompetes, trombones, tuba e
percussão, dentro do modelo tradicional de orquestra de frevo de rua. A participação da Lira no bloco é um momento de representação para todo o município, principalmente por mostrar a sua cultura e
engrandecer a maior festa popular das Alagoas. Sua participação tanto dentro quanto fora do município a faz patrimônio cultural local.
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Orquestra de frevo da Banda Lira Traipuense Arquivo pessoal de Nilton Souza |
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Banda Lira Traipuense - anos 1990 Arquivo pessoal de Nilton Souza |
A imprecisão de sua data de fundação é algo que ainda incomoda muitos dos músicos locais. Nelson Souza, com o seu dobrado "Lira Traipuense" - comemorativo do seu centenário, encerra a discussão e coloca a Lira com seus quase 120 anos, no pódio das centenárias Sociedades Musicais do Baixo São Francisco.
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Banda Lira Traipuense - Feira dos Municípios Alagoanos, 2014. Arquivo pessoal de Nilton Souza |