segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A Banda Lira Traipuense - Histórico


A Banda Lira Traipuense

Histórico

No ano de 1886, foi fundada a Sociedade Clube Doméstico Musical Guarany, que teve como seu primeiro presidente o advogado Manoel Firmino Meneses Matos. A partir dessa iniciativa, uma outra sociedade musical, antiga na cidade, passou a se denominar União Traipuense Musical. Mais tarde foi fundada a Lira e Filarmônica , que por sinal é a única que resistiu ao tempo.
Um dos primeiros músicos traipuenses que se destacaram por seus trabalhos, foi  José Leopoldino de Barros. Nascido nessa cidade a 4 de janeiro de 1881 e falecido a 14 de junho de 1912. O mesmo aprendeu música com o telegrafista e também musicista Lino Ferreira Lima, e em sua estadia na capital baiana, que duraria até o ano de 1897, aprofundou seus conhecimentos musicais. Tornou-se exímio executante do violino e do bombardino, embora tocasse e ensinasse vários outros instrumentos. Ficou bastante conhecido em todo o baixo São Francisco por seus trabalhos à frente de uma das Bandas de Música do município.
Embora o movimento musical na comunidade traipuense, já se fizesse intenso, foi a ação da Igreja e de seus representantes, principalmente pela bela formação musical que possuíam, que a música passou a ser tida como parte da vida do traipuense. O padre Alfredo Silva que passou pela Paróquia de Nossa Senhora do Ó, de marco de 1911 a maio de 1949, foi um grande entusiasta da música e fez, nos limites de suas possibilidades, todo o possível para que a música que ali fluía, pudesse ser utilizada em louvor a Deus. Compôs uma novena para cada dia do novenário mariano, num total de 30; instituiu uma Novena a Nossa Senhora do Ó, em estilo clássico, bem mozartiana e transformou aquela pacata cidade ribeirinha num promissor centro musical. Desde então, a tendência natural do traipuense à música ganhou um impulso considerável, de modo que toda família traipuense se orgulhava por ter um membro músico.
Foto da Banda Lira - anos 1960
Arquivo pessoal Nilton Souza.

Ensinou música a algumas pessoas da comunidade, dentre eles, Dona Angelita, Onofre Bispo e Ranufo Carmo. Conhecido pelo apelido de Nô Morcego, o mestre Ranufo Carmo, nascido a 16 de outubro de 1900 e falecido por volta de 1953, se destacou em Traipu como professor, compositor, excelente clarinetista e regente, além do conhecimento de vários outros instrumentos como o violino, flauta, violão e tantos outros. Teve sua formação musical nesta comunidade, estudando com o Padre Alfredo Silva. Participou de várias Bandas Militares na Bahia, Sergipe e Alagoas, sendo expulso de todas elas por problemas relacionados ao alcoolismo. Esse mestre foi um marco no desenvolvimento das gerações de músicos que estariam legados a continuar a arte musical em Traipu.
Maestro Ranufo Carmo
Foto do arquivo pessoal de Pedro Basílio.
Até então, o ensino musical era concedido apenas àqueles que podiam pagar. Somente em 14 de julho de 1946, com a criação da Escola de Música José Leopoldino de Barros, na Administração do Sr. Benedito de Freitas, o ensino de música passou a ser oferecido gratuitamente, quando Ranufo Carmo passou a ser o primeiro professor dessa escola e o primeiro professor de música contratado pela Prefeitura Municipal de Traipu.
 Além de professor, o mestre Nô assumiu a regência da Banda de música e dava aulas particulares de violão e violino. Um de seus alunos foi a Dona Nazaré Bento, que segundo suas memórias tinha que aproveitar os intervalos entre as bebedeiras do talentoso professor para que pudesse progredir nos estudos do violino. 
Banda Lira nos anos 1970, com Antônio Basílio como regente.
Foto do acervo familiar de Antônio Basílio 
  
           A frente da Lira, o maestro Nelson Palmeira, professor de música e excelente saxofonista, foi responsável pelas primeiras noções musicais do regente, nascido em Traipu, Florentino Dias. Passou grande parte de sua vida dedicando-se a Banda de Música de Traipu e nem mesmo depois de sua valorosa passagem por Arapiraca, deixou de opinar pela Lira Traipuense.


Após a saída do maestro Nelson Soares Palmeira, Antônio Basílio ainda jovem assume a regência da Banda. Dentre os regentes da Lira Traipuense é o que mais tempo passou a sua frente. Teve como professor o tio-padrinho Ranufo Carmo, assim como seus irmãos José Basílio, Manoel Basílio e Pedro Basílio também o tiveram.
Durante o período em que Antônio Basílio ficou à frente da Lira, Nelson Souza, compositor, maestro, professor de música e excelente executante do bombardino foi seu contramestre. Ainda jovem teve o seu primeiro contato com a composição: era o dobrado 18 de dezembro, em homenagem a padroeira da Cidade de Traipu, Nossa Senhora do Ó. Daí por diante não faltaram inspirações para o seu talento musical. São mais de 50 composições entre dobrados, marchas, valsas e frevos. Em 1970, Nelson Souza passou a ser o professor da Escola de Música José Leopoldino de Barros, assumindo o lugar de Antônio Basílio dos Santos que passou a assumir a regência da Banda Municipal. Com o falecimento de Antônio Basílio, assume a regência da Lira Traipuense o maestro Nelson Souza.
A Banda Lira Traipuense desde o início do Bloco Pinto da Madrugada fez-se presente enviando uma Orquestra de Frevo formada por saxofones, trompetes, trombones, tuba e percussão, dentro do modelo tradicional de orquestra de frevo de rua. A participação da Lira no bloco é um momento de representação para todo o município, principalmente por mostrar a sua cultura e engrandecer a maior festa popular das Alagoas. Sua participação tanto dentro quanto fora do município a faz patrimônio cultural local.
Orquestra de frevo da Banda Lira Traipuense
Arquivo pessoal de Nilton Souza

Banda Lira Traipuense - anos 1990
Arquivo pessoal de Nilton Souza


A imprecisão de sua data de fundação é algo que ainda incomoda muitos dos músicos locais. Nelson Souza, com o seu dobrado "Lira Traipuense" - comemorativo do seu centenário, encerra a discussão e coloca a Lira com seus quase 120 anos, no pódio das centenárias Sociedades Musicais do Baixo São Francisco.  

Banda Lira Traipuense - Feira dos Municípios Alagoanos, 2014.
Arquivo pessoal de Nilton Souza

sábado, 6 de agosto de 2016

Lira Traipuense é tema de estudos acadêmicos e publicações.



Nesta última semana a Lira Traipuense - dentre outras Filarmônicas - foi tema de atividades de pesquisa e publicação na internet além, da valiosa contribuição do jornalista e escritor Wilson Lucena, Tocando amor e tradição: a banda de música em Alagoas, em dois volumes pela editora Viva.
capa do livro do jornalista Wilson Lucena
O seu livro certamente contribui-rá muito para futuras pesquisas, tanto acadêmicas, quanto jornalísticas. 


















O texto abaixo encontra-se no blog do maestro e musicólogo Nilton Souza. Clique e acesse

Serie Musicologia Alagoana - nº 1

Comemorar os 70 de criação da Primeira Escola de Música em Traipu?

O Baixo São Francisco teve seu desenvolvimento cultural atrelado à hidrovia do Baixo São Francisco, Decreto Imperial de 1866 que permitiu a navegação na região. A música, que teve em Penedo os primeiros compositores e grupos musicais, difundiu-se por todo o vale ribeirinho, desenvolvendo-se, principalmente, em Piaçabuçu, Traipu, Pão de Açúcar e Piranhas no lado alagoano.
Em Traipu a Sociedade Clube Doméstico Musical Guarany foi criada em 1886 como uma Sociedade Civil voltada ao entretenimento público, aos moldes da Imperial Sociedade Filarmônica Sete de Setembro, de Penedo, fundada em 16 de agosto de 1865. Nesse período o ensino musical não era gratuito e poucos tinham o privilégio de estudar um instrumento musical. Durante 60 anos (entre 1886 e 1946) os traipuenses recorreram ao ensino musical pago, ministrado por vários maestros naturais da cidade e outros que ali se estabeleceram como Lino Ferreira Lima (sec. XIX), José Leopoldino de Barros e Padre Alfredo Silva (sec. XX).
Em 1946, a Prefeitura Municipal de Traipu inaugura a Escola de Música José Leopoldino de Barros e nomeia como primeiro professor o maestro Ranulpho Carmo de Carvalho (1898- 1953?), ou simplesmente “Nô Carmo”, ex-militar do exército atuante nas bandas de regimento da Bahia, Sergipe e Alagoas. Embora tenha tido o seu nome retirado para homenagear o saxofonista Pedro Basílio do Santos, nos anos 2000, a Escola de Música – que tem o maestro Nelson Souza como professor atual – mantêm as suas atividades.
A memória dos 130 anos de música em Traipu deve ser sempre elucidada, no sentido de ilustrar o quão importante a cultura musical no município fez da povoação ribeirinha parte da história musical de Alagoas.
Cônego Alfredo Silva e família. Padre em Traipu e professor de música de uma geração. 
Fontes:

SOUZA, Nilton da Silva. Mapeamento de arquivos públicos e particulares do Baixo São Francisco: novas perspectivas à luz de novos documentos. In: Atas do I Coloquio/Encontro Nordestino de Musicologia Histórica Brasileira. Salvador, 2010. Disponível em: http://www.portaleventos.mus.ufba.br/index.php/CNM/I-CENoMHBra/paper/viewFile/45/8.
Jornal do Traipu, 1877-1884.
Jornal Cometa - 1886.