O tradicional novenário de Nossa Senhora do Ó de Traipu-AL está em sua edição de número 285, remontando-se ao século XVIII. Pouco se sabe como era a prática religiosa no passado mas que, certamente no século XIX já se esboçava um elemento cultural que muito agregou à fé do povo traipuense: a música. A música da novena é dos mais belos exemplares da influencia da cultura musical européia nas Américas e reflete as necessidades de adaptação instrumental e vocal à cultura musical nordestina. Neste sentido, a forte influencia das Bandas de Música está presente na escrita para instrumentos do ensemble como bombardino, clarineta, saxofone, etc. embora mantendo as características estilísticas do classicismo musical.
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Imagem de Nossa Senhora do Ó |
Historicamente, a cidade de Traipu ainda na condição de vila já possuía a cultura da banda de música. Esses grupos musicais de início e meados do século XIX eram compostos de poucos músicos com disposições instrumentais nem sempre condizentes com a tradição instrumental já em voga em Portugal no século XVIII. Entretanto, a vida musical das pequenas vilas e cidades do século XIX tinha nesses grupos a possibilidade do provimento de música desde às atividades religiosas e cívicas ao entretenimento.
Há evidencias de que antes da fundação da Sociedade Guarany, em 1886, já havia em Traipu uma banda de música que se apresentava em procissões nas cidades ribeirinhas do Baixo São Francisco. Desse modo de associação à procissão religiosa a banda ganhará espaço na já tradicional festa com a presença efetiva numa jornada musical: toca-se a alvorada, antes das 6hs; ao meio dia toca-se novamente; na recepção ao padre que celebrará a noite de novena toca-se às 19hs; após a novena a banda de música faz uma retreta enquanto as prendas do leilão são vendidas.
A Banda Lira já está à frente dessa cultura há mais de cem anos e no seu compromisso com a manutenção das mais valiosas tradições culturais da cidade se faz presente de forma efetiva ao cuidar para que nada seja mudado, entretanto sempre melhorado no que for pertinente. O diálogo com a sociedade e poder público tem mostrado um caminho promissor diante das correntes que erroneamente pregam a modernidade como uma solução ao que se apresenta tradicional, tanto na prática da fé como numa prática musical.
O novenário de Nossa Senhora do Ó se preserva com ações como a edição didática da partitura da novena promovida pelo maestro e musicólogo Nilton Souza; pela luta para o fortalecimento do Coral de Nossa Senhora, promovido pelo entusiasmo de Dona Dadá, Genivaldo e grande equipe e pela compreensão do nosso pároco que compreende a importância de manter viva a tradição e apoiá-la sem ressalvas.
Em 2018 a Banda Lira estará mais uma vez presente e espera ter consigo nessa jornada algumas bandas convidadas.
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